Milk shaming (vergonha do leite)

CONTAG, Federações e Sindicatos buscam fortalecimento da cadeia leiteira no Brasil

CILeite – Embrapa

A mais recente edição da newsletter do Observatório do Consumidor mergulha no fenômeno crescente conhecido como “Milk Shaming”, uma expressão que capturou a atenção da mídia americana e se refere à tendência de criticar ou envergonhar aqueles que optam por consumir leite tradicional ao invés de suas alternativas à base de plantas. Esta onda de críticas gerou uma resposta criativa através de uma campanha publicitária, que com um toque de humor, busca destacar o quão infundado é julgar as preferências alimentares alheias. O objetivo é promover um ambiente de aceitação e desestigmatizar o consumo de leite convencional, incentivando uma coexistência harmoniosa entre os diferentes consumidores de leite.

 A despeito da abordagem lúdica da campanha, não se pode ignorar os relatos concretos de bullying enfrentados por consumidores de leite, particularmente entre os mais jovens. Diante desse cenário, nossa newsletter se propõe a analisar a percepção do leite e seus derivados no Brasil, com base em postagens realizadas no X (antigo Twitter), de maio de 2020 a agosto de 2023. Buscamos responder: qual derivado lácteo é mais estigmatizado no Brasil?

Qual derivado lácteo gera mais vergonha?

Através de um levantamento exaustivo, notamos que a maior parte do conteúdo veiculado sobre leite e seus derivados tende a ser positivo. Apenas 14% das publicações carregam uma conotação negativa.

No entanto, ao examinar os produtos individualmente, descobrimos que iogurte, leite condensado e leite lideram como os mais criticados no período considerado, com 20%, 20% e 19% das postagens negativas, respectivamente.

A presença do leite condensado nessa lista deve-se a um episódio específico de controvérsia em torno de compras governamentais em larga escala do produto em 2020, enquanto iogurte e leite enfrentam um escrutínio mais constante.

Variação temporal das postagens negativas sobre iogurte e leite

A análise temporal permite observar um crescimento significativo no número de postagens de conteúdo negativo sobre leite, especialmente entre o quarto trimestre de 2021 e o terceiro trimestre de 2022. Na sequência, o volume de postagens negativas cai, mas permanece em um patamar superior ao do início da série.

Nossa análise aprofundada do discurso negativo sobre o leite na plataforma social X revela um panorama complexo, onde expressões alusivas à contaminação – tais como “esporos”, “campylobacter”, “salmonelose”, “micróbio”, “germe” e “contaminação” – emergem com frequência. Tal vocabulário aponta para uma preocupação perceptível com a segurança alimentar, refletindo possíveis temores sobre a qualidade e a integridade do leite e seus derivados. Ademais, termos pejorativos como “porcaria”, “lixo”, “fezes” e “chiqueiro” também marcam presença, sugerindo traços de uma mentalidade de “milk shaming”, embora essas expressões possam também indicar insatisfação geral com o produto, além da crítica à escolha de consumo.

Intrigantemente, a discussão se estende para além da qualidade do produto, abrangendo aspectos como ingredientes e embalagens, com menções a “copo”, “caixinha”, “lata”, “saquinho”, “acidulante”, “espessante” e “aditivos químicos”, além da “tabela nutricional”. Esse espectro de comentários reflete uma gama de preocupações que vão desde a composição do produto até o impacto ambiental de suas embalagens.

Contudo, a natureza das críticas – se derivam de problemas no manuseio, armazenamento e transporte por parte do consumidor, ou se são inerentes às qualidades do produto – permanece ambígua sem uma investigação detalhada de cada postagem. Dessa forma, com base nas evidências disponíveis, a afirmação de que o “milk shaming” é uma prática prevalente no Brasil encontra-se, pelo menos por ora, sem fundamento sólido.

Concluindo, a newsletter deste mês do Observatório do Consumidor lança luz sobre um tema de relevância crescente, não apenas revelando a complexidade das opiniões sobre o leite e seus derivados no Brasil, mas também destacando a necessidade de uma compreensão mais aprofundada das motivações por trás das críticas. Ao fazer isso, não apenas informamos nossa audiência, mas também estimulamos uma reflexão crítica sobre os padrões de consumo, a segurança alimentar e a tolerância nas escolhas alimentares. Nesse sentido, esse debate contribuirá para uma sociedade mais informada, tolerante e consciente, onde as escolhas alimentares são respeitadas e baseadas em informações confiáveis e considerações éticas, em vez de serem motivadas por desinformação ou estigma.

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