Os desafios são enormes, mas o amor pelos queijos artesanais, é GIGANTE

Os desafios são enormes, mas o amor pelos queijos artesanais, é GIGANTE

Concursos dentro e fora do país têm destacado o poder e a qualidade das pequenas e médias

queijarias. Sabores inusitados, tamanhos diferentes, processos de maturação únicos e muita história

para contar fazem dos derivados produzidos fora da indústria, especiais. No Pará, a tradição e a

inovação em queijos artesanais ultrapassam os desafios e conquistam fãs em todo o estado

Por: Erika Ventura

Que tal transformar uma dificuldade num diferencial? Que tal agarrar as oportunidades e mostrar

que tudo é possível, até se destacar vendendo queijo, mesmo numa cidade em que o queijo não é

tão tradicional assim? Estes e muitos outros dilemas estão sendo vencidos pela Tayllanny Maria de

Araujo, a Mestre Queijeira proprietária da Produtos da Tatá, queijaria artesanal localizada em São

Geraldo do Araguaia, no sudeste do Pará.

“Eu estou numa cidade pequena, com poucos produtores de queijos, com déficit de localização,

problemas de deslocamento e déficit de insumos. Aqui é difícil para receber os ingredientes que vêm

do sul, a região é muito quente, enfim, no final das contas, a produção do queijo sai bem cara. Mas

eu estou conseguindo romper muitas muralhas e batalhas, trazer todas essas dificuldades que eu

encontro para me favorecer. Tento potencializar o que se adequa à minha região, aquilo que se

adequa à minha temperatura. É muito jogo de cintura, mas mesmo diante de tudo isso, eu me sinto

muito privilegiada”, relata Tatá.

Nascida em Teresina, no Piauí, Tayllanny chegou a zona rural de São Geraldo do Araguaia em maio

de 2011. O queijo não fazia parte da sua rotina, nem para consumo. Após conhecer um pouco mais

sobre o kefir, leite fermentado rico em bactérias e leveduras probióticas, num encontro de mulheres

na cidade, ela mergulhou fundo nas pesquisas pelo Google afora, até chegar à Comunidade do

Queijo, onde fez cursos, trocou experiências e aprendeu tudo que sabe na arte dos derivados lácteos

artesanais.

“Eu digo que eu tenho duas vidas, uma antes da Comunidade do Queijo e outra

depois. Antes de entrar, eu não sabia nem ferver o leite direito”, conta Tatá, que apesar dos

percalços e da concorrência com a indústria, não se intimidou.

“De cara, o produtor artesanal precisa compreender que não tem o maquinário de um grande

laticínio. A gente não consegue fazer uma produção escalonada, porque o artesanal é uma produção

intimista. Mas isso nos dá autonomia de ter nossos produtos autorais! Cada dia eu vejo que a

procura pelo produto artesanal aumenta. Eu chego até a comentar que o artesanal tem uma

pitadinha a mais de amor, porque todo o processo é manual”, conta a produtora.

E completa, “a maturação não é feita em grandes câmaras e prateleiras. Em alguns locais, onde a

legislação permite, a cura é feita na madeira. São pequenas peças de queijos, quantidades menores,

dá até mais trabalho. Cada maturação leva um cuidado, um amorzinho que enche os nossos olhos.

Cada produto sai com um valor agregado específico. Eu tenho vivido isso, a gente consegue

acompanhar, ver como mais zelo, esse caminhar do queijo neste processo de maturação. Tem um

apelo emocional muito grande, porque são queijos que a gente olha todo dia, conversa, faz um

acompanhamento e tem horas que dá até uma ‘dózinha’ de vender”, brinca.

Tatá abusa da criatividade e como marca registrada tem em seu portfólio produtos autênticos com

sabor especial da cultura paraense. Entre suas criações favoritas estão o requeijão de corte com

castanha do Pará desidratada, o requeijão cremoso de castanha de Pará, um dos campeões de

venda, e seus iogurtes, com geleias de frutas, como a de bacuri, abacaxi com hortelã e ameixa.

O conhecimento de Tatá, hoje, já não é só dela. Sempre envolvida em atividades com a prefeitura da

cidade, a sala do Empreendedor e as secretarias de Agricultura e Turismo, Tayllanny tem

compartilhado o que sabe com outros produtores. “Vejo que a gente precisa se renovar, reciclar e

isso se agrava numa cidade como a minha. Apesar de eu ter conseguido conquistar meu espaço,

através do meu esforço diário e incansável, desejo sempre representar a minha região com

maestria”.

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