Por Natália Grigol
Até o início de agosto, os fundamentos de mercado apontavam reduções do preço do leite ao produtor. Por um lado, a produção de leite parecia estimulada pelo aumento da margem do produtor neste ano e, por outro, a demanda seguia condicionada aos preços baixos nas gôndolas. Fora isso, as importações, ainda em volumes elevados, pressionavam as cotações ao longo de toda cadeia produtiva. Foi nesse contexto que o Cepea registrou queda de 1,5% do preço do leite captado em julho, levando a “Média Brasil” a fechar a R$ 2,7225/litro. E, naquele momento, a expectativa dos agentes era de que o terceiro trimestre seguisse registrando retrações no preço do leite ao produtor – como indicado neste Boletim em meses anteriores.
Porém, esse cenário mudou de forma rápida e drástica. Se antes o mercado apontava aumento da disponibilidade de leite e de lácteos, agora, a expectativa é de que haja menor oferta. Com isso, o leite captado em agosto deve apresentar alta, de 1% a 2%, a depender da região. E espera-se que o movimento de valorização ganhe força a partir de setembro.
Apesar do aumento da margem do produtor nos últimos meses e de certa estabilidade nos custos de produção (ver seção Custos de Produção, na página 6), o estímulo à atividade foi menor do que o esperado pelos agentes do setor. Isso ficou evidente com a divulgação dos dados mais recentes da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE em meados de agosto. O levantamento apontou que a captação de leite cru pelas indústrias de laticínios no âmbito nacional caiu 6,2% no segundo trimestre em relação ao primeiro. Comparando com o mesmo período do ano passado, o incremento foi de apenas 0,8%.
A desconexão entre as expectativas dos agentes do mercado e dos dados de captação comprova a dificuldade do setor em dimensionar seu potencial de oferta diante de tantas mudanças estruturais recentes do sistema agroindustrial do leite. Isso se traduz numa fonte importante de incerteza para quem transaciona leite cru no País, o que impede a previsibilidade, o planejamento de longo prazo e o gerenciamento de riscos. Além disso, os agentes de mercado também podem ficar mais expostos e vulneráveis à especulação.
A recuperação da produção, como era previsto no início de agosto, não aconteceu sobretudo devido ao clima extremo. O excesso de chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul em maio fizeram com que a oferta crescesse pouco entre julho e agosto. A entressafra no Sudeste e Centro-Oeste se intensificou com o calor a partir de agosto. E as queimadas em setembro fizeram esse cenário se agravar a nível nacional. Além de comprometer o bem-estar animal, os incêndios têm prejudicado a produção de forragens para alimentação animal – o que eleva o custo de produção e limita a oferta.
Como a produção não se recuperou conforme o previsto, os estoques de lácteos nas indústrias não foram repostos como esperado. O consumo, por sua vez, tem se mantido firme; e os estoques, nos laticínios, já estão abaixo do normal – o que pode elevar as cotações em setembro. A pesquisa do Cepea com apoio da OCB mostrou que, em agosto, apesar de o UHT e o leite em pó terem se desvalorizado, o preço da muçarela já tinha aumentado devido ao menor estoque.
Outro fator que contribui para a menor disponibilidade de lácteos entre agosto e setembro foi a diminuição das importações. Dados da Secex compilados pelo Cepea mostram que, em agosto, houve queda de 25,2% nas importações de lácteos, totalizando 187,8 milhões de litros em equivalente leite.
Fonte – Boletim do Leite CEPEA