Estação de monta – um olhar diferente traz ganhos ao rebanho

Estação de monta - um olhar diferente traz ganhos ao rebanho

Olhar para o período como um filme e não como uma foto resulta em ganhos ao rebanho e à propriedade. Considerar o processo reprodutivo desde o começo da vida da novilha e não somente como um protocolo isolado é fundamental para que se tenha eficiência na reprodução

Quem atua em pecuária sabe que a estação de monta é um momento crucial para os pecuaristas que buscam aumentar a eficiência produtiva do rebanho e os ganhos das propriedades. Porém, poucos entendem que o sucesso desse momento deve ser construído ao longo de todo o ciclo pecuário, levando em consideração os protocolos utilizados ao longo da vida das vacas, que estarão assim mais preparadas para receber um protocolo reprodutivo que seja bem-sucedido.

Para exemplificar esse conceito, o gerente de Produtos & Trade da Biogénesis Bagó, Caio Borges explica que a estação de monta deve ser inserida em um roteiro como de um filme, que considera todas as etapas da vida da vaca e não somente como uma foto de um curto momento do ciclo.

“A estação de monta é pensada, na maioria das vezes, apenas pelo protocolo de inseminação artificial (IATF) e as vacinas reprodutivas. Entretanto, ela é apenas uma etapa de todo o processo reprodutivo, que precisa ser visto como um filme completo, com o animal sendo preparado antes mesmo de seu nascimento. Não adianta fazer o melhor protocolo reprodutivo do mundo em animais que não foram preparados para receber. Esse é o segredo para uma melhor eficiência produtiva e reprodutiva”, recomenda Borges.

Ele destaca que a preparação para a reprodução deve começar a partir do primeiro dia de vida do embrião, com a aplicação de um protocolo sanitário adequado nas fêmeas gestantes para fornecer as melhores condições possíveis ao desenvolvimento do feto. “Ao final da gestação deve-se estimular a imunidade da vaca para que, quando o bezerro ou bezerra nasça, o animal tenha acesso a um colostro de melhor qualidade, que é a primeira imunidade da sua vida”, frisa.

Essa visão contempla os seis pilares da pecuária moderna preconizados pela Biogénesis Bagó para a produção do “Boi Azul”: sanidade, genética, nutrição, gestão, bem-estar e sustentabilidade.

Organização dos nascimentos

Seguindo o raciocínio apontado por Borges, o também médico-veterinário e coordenador de Serviços Técnicos da Biogénesis Bagó, João Paulo Lollato ressalta que outro ponto de atenção é a organização dos nascimentos das fêmeas. Isso se reflete na concentração dos partos durante um período definido, com o plantel apresentando uma faixa etária similar. O resultado desse planejamento é bezerras nascendo no período considerado “cedo” e entrando com maior antecedência no ciclo reprodutivo.

“A organização dos nascimentos se torna importante, pois os animais nascidos no ‘cedo’ chegam ao peso ideal para reprodução antes do que os que nasceram no ‘tarde’, tornando-se aptos à reprodução antecipadamente quando comparados com os animais nascidos depois. O conjunto de manejos, com a organização dos nascimentos, boa colostragem, correta cura de umbigo, prevenção da diarreia, nutrição correta desde a cria e outras ações ajudam a garantir o sucesso da estação reprodutiva”, resume Lollato.

Busca por “precocinhas”

A preparação para a estação de monta também deve estar aliada com o manejo correto da desmama, operação que pode auxiliar os pecuaristas a obter novilhas entrando na estação reprodutiva com 12 ou 13 meses, as chamadas “precocinhas”. Com o desenvolvimento antecipado e correto, esses animais podem chegar aos 12 meses aptos a conceber um bezerro a mais durante toda a sua vida reprodutiva.

Nessa etapa, com o peso adequado, a novilha já é considerada ‘precocinha’ na estação de monta. “Dizemos que o pecuarista ganha um bezerro a mais na vida dessa novilha precoce, ou seja, se com 24 meses essa fêmea já possui um parto durante sua vida reprodutiva – que normalmente seria a produção de cinco crias, ela terá deixado seis bezerros para a fazenda”, comenta Lollato.

Ele explica que a ´precocinha’ começa a ser viabilizada desde o ventre da mãe, a partir da programação do nascimento desta fêmea para o cedo, estimulando a produção de um colostro de qualidade pela vaca com o uso de vacinas para prevenir diarreia, como a Rotatec J5 para que essa bezerra tenha melhor imunidade durante sua fase de desenvolvimento.

“Além disso, um correto programa sanitário até a desmama possibilitará que essa ‘precocinha’ tenha bons resultados. Na desmama, iniciamos as vacinas reprodutivas Bioabortogen H e Bioleptogen com dose e reforço para que quando, aos 12 a 13 meses, for iniciar a estação reprodutiva ela já esteja imunizada e com boa condição de evitar as perdas em decorrência dessas doenças”, orienta o coordenador de Serviços Técnicos da Biogénesis Bagó.

Pensando no bom desempenho da novilha precoce, três fatores atuam no progresso desse animal: peso, desenvolvimento corporal e sanidade.

“Primeiro, o animal desenvolve sua parte óssea, depois músculo e, por fim, gordura, que está ligada à produção de hormônios. Para ser efetiva, uma ‘precocinha’ precisa aliar esses fatores. Caso contrário, não estando preparada, ela até pode emprenhar, mas apresentará maiores desafios para se tornar gestante na próxima estação e será uma primípara que permanece ‘vazia’ dentro da fazenda”, ressalta Borges.

Para obter todo esse êxito, o gerente enfatiza que o animal precisa receber um programa sanitário de excelente qualidade e suporte nutricional de ponta para que chegue em escore corporal adequado e apta à concepção aos 12 meses de vida.

Investir antes, durante e depois da estação de monta

É fundamental investir antes, durante e depois da estação de monta, mesmo em períodos de baixa de preços para quem trabalha com cria, pois os resultados podem ser colhidos com um bom bezerro na época de alta.

De acordo com um estudo realizado por Crepaldi e Baruselli (2021), em 2002, a prenhez por IATF representava 37% do preço de um bezerro desmamado. Em 2012, esse dado caiu para 12%, e, em 2021, chegou a 5%. No cenário atual, estima-se que esse custo esteja entre 7% e 7,5%. “A taxa de concepção – número de vacas que se tornam prenhes dentro de um protocolo de inseminação – pode chegar ao excelente patamar de 72% a 75%, porém há casos que os índices não passam de 25%. Isso reforça a importância de toda a preparação dos animais durante toda a vida visando a estação de monta”, salienta Borges.

Portanto, a decisão de retirar o uso da tecnologia de IATF em períodos de baixa é sinônimo de perda em produtividade. “Por outro lado, se o pecuarista continua investindo, otimizando os processos e manejos da fazenda para ganhar mais índices e reforçando os cuidados durante a gestação para reduzir as perdas, consegue que os custos de produção se reduzam, produzindo mais com o mesmo número de fêmeas”, destaca. “Protocolo sozinho não faz milagre, o que vai fazer a diferença é a forma como os animais são preparados. Quem foca em custo, perde qualidade e quem foca em qualidade, reduz custo. Sempre lembrando que a prenhez de hoje será o bezerro desmamado de 2025, quando se espera uma inversão no ciclo pecuário e maior valorização dos animais”, conclui Borges.

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