Em meio a incertezas, mercado lácteo espera recuperação em 2023

“Após quatro anos de altas consecutivas na produção leiteira, o setor apresentou dois anos de quedas significativas e estima-se que o Brasil encerre o ano com queda de 4,4% na produção formal”, relata a pesquisadora da Embrapa Gado de Leite Kennya Siqueira.
  • Guerra na Ucrânia pressionou aumento das commodities agrícolas como o leite e elevou o seu custo de produção.
  • Em 2022, os produtos lácteos atingiram preços recordes no País. Em agosto, a inflação dos derivados de leite chegou a 40%.
  • Apesar da expectativa de retomada de crescimento, especialistas ressaltam que o ano de 2023 será ainda de muita incerteza, especialmente em relação à área fiscal.
  • Nos dois últimos anos, o Índice do Custo de Produção do Leite (ICPLeite) registrou crescimento de 62%. Dados fazem parte de estudo do Centro de Inteligência do Leite da Embrapa.
  • Guerra na Ucrânia pressionou aumento das commodities agrícolas como o leite e elevou o seu custo de produção.
  • Em 2022, os produtos lácteos atingiram preços recordes no País. Em agosto, a inflação dos derivados de leite chegou a 40%.
  • Apesar da expectativa de retomada de crescimento, especialistas ressaltam que o ano de 2023 será ainda de muita incerteza, especialmente em relação à área fiscal.
  • Nos dois últimos anos, o Índice do Custo de Produção do Leite (ICPLeite) registrou crescimento de 62%. Dados fazem parte de estudo do Centro de Inteligência do Leite da Embrapa.

 “Após quatro anos de altas consecutivas na produção leiteira, o setor apresentou dois anos de quedas significativas e estima-se que o Brasil encerre o ano com queda de 4,4% na produção formal”, relata a pesquisadora da Embrapa Gado de Leite Kennya Siqueira. “A cadeia produtiva do leite sofreu sérios impactos pelos acontecimentos globais em 2022, intensificando as dificuldades já apresentadas em 2021”, completa. Se, por um lado, a vacinação contra a Covid-19 acenava para a volta da normalidade e a retomada da economia; por outro, logo no primeiro trimestre de 2022, o conflito entre Rússia e Ucrânia valorizou as commodities agrícolas e o petróleo.

Grandes produtores de grãos, fertilizantes e petróleo, os países em conflito impediram que a economia global se recuperasse dos anos de pandemia e criaram as condições para aumentos recordes dos custos de produção de leite no Brasil, além do aumento da inflação e da queda da renda do brasileiro, segundo detalha a cientista. Especialistas do Centro de Inteligência do Leite da Embrapa (Cileite) fizeram um balanço do período recente e traçam perspectivas para setor em 2023.

O ano de 2021 já terminara com dificuldades para o setor, com queda no volume de produção do leite inspecionado (gráfico abaixo), elevando a importação de lácteos em 21,5% no ano posterior. Nos dois últimos anos, o Índice do Custo de Produção do Leite (ICPLeite) divulgado pela Embrapa registrou crescimento de 62%. A partir do segundo semestre, esse índice iniciou uma lenta retração e, em novembro, o ICPLeite apresentou queda de 1,7%, influenciado principalmente pela retração de 4,5% do custo do alimento concentrado para as vacas. Ainda assim, o cenário foi de piora na rentabilidade do produtor ao longo do segundo semestre de 2022, pois o preço recebido por eles caiu de um pico de R$ 3,53 por litro de leite, em agosto, para cerca de R$ 2,50, em dezembro.

O impacto também foi sentido pelo consumidor; segundo estimativa da Embrapa, o consumo anual de leite por habitante foi reduzido de 170,3 litros para 163 litros. Em meados do ano, os lácteos atingiram preços recordes. O bolsista de economia Ygor Guimarães, que atua no Núcleo de Desenvolvimento Econômico da Cadeia Produtiva do Leite da Embrapa, lembra que, em agosto, a inflação do “leite e derivados” chegou a 40,2%, sendo um dos itens que mais influenciou a elevação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “O alto custo para alimentar as vacas e a queda na produção durante a entressafra do leite penalizou o consumidor”, aponta o pesquisador do Núcleo Samuel Oliveira. “Podemos afirmar que o Brasil passou por uma crise de oferta de leite”, completa Oliveira. Isso fez com que os compostos lácteos ganhassem espaço como alternativas mais acessíveis para suprir parte da demanda, não sem despertar polêmica (leia quadro no fim da matéria).

No entanto, o quarto trimestre do ano representou algum alívio para os consumidores. Na primeira quinzena de dezembro, o litro do leite UHT no atacado estava cotado a R$ 3,82 (queda de 40,5% desde o final de julho). Já o quilo da muçarela era vendido pela indústria a R$ 28,27 (queda de 34,8%). O leite spot (leite comercializado entre laticínios) teve a maior deflação; o litro do produto foi cotado em Minas Gerais a R$ 2,34, o que representa um recuo de 43% em relação a julho. Estimativas históricas sugerem que as festas de fim de ano são positivas para a indústria, que intensificam suas vendas. Estima-se crescimento próximo de 30% em relação à média de venda do ano, principalmente para leite condensado e creme de leite.

Perspectivas para o setor

Para o pesquisador da Embrapa Glauco Carvalho, embora o ano que começa ainda traga muitos componentes de incertezas internas e externas, o mercado brasileiro está se reequilibrando em termos de oferta e demanda. Segundo ele, com a recuperação do mercado de trabalho e melhorias do emprego e renda, espera-se alguma melhoria no consumo de leite e derivados.

Outro fator positivo é a produção brasileira elevada de grãos na safra 2022/2023, contribuindo para uma menor pressão nos custos de alimentação das vacas, sobretudo concentrados à base de milho e soja. “Mas é um ano de muita incerteza ainda, em função da mudança de governo e das diretrizes que serão adotadas, principalmente na área fiscal, que tem impacto direto sobre taxa de juros e câmbio”, diz Carvalho.

No âmbito externo, o analista Lorildo Stock espera que os preços dos fertilizantes recuem com uma solução para a guerra Rússia-Ucrânia. Porém, o cenário de inflação e o baixo crescimento previsto para as grandes economias (Estados Unidos, União Europeia e China) podem refletir negativamente na retomada da economia brasileira. “A desaceleração da economia mundial poderá gerar algum impacto negativo, ainda que modesto, no segmento lácteo”, avalia Stock. Carvalho complementa, dizendo que a forte valorização das commodities agrícolas e não agrícolas, nos últimos dois anos, ajudou na recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Esse não é o cenário para 2023.

 Perspectivas para a produção nacional de leite

As mudanças na escala de produção tanto das fazendas quanto dos laticínios devem continuar acontecendo no Brasil, que conta com dois importantes trunfos: Avanço tecnológico Com ganhos em produtividade e escala em todas as regiões brasileiras. O aumento da produtividade por vaca atingiu 60% nos últimos dez anos, chegando a 2,2 mil litros por vaca no Brasil, em 2021. Aumento da produtividade Apesar da produtividade média ainda ser baixa, tem havido um aumento importante deste indicador, sinalizando para a mudança tecnológica que acontece nos diferentes sistemas de produção de leite. Já existem cerca de 267 municípios no País com produtividade média superior à observada na Nova Zelândia (4.500 litros/vaca). “Neste ambiente de mudanças estruturais, a busca da eficiência e da competitividade por meio de boas práticas de gestão e de inovação tecnológica são requisitos indispensáveis para a sobrevivência no agronegócio do leite”, finaliza Carvalho.

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