Com objetivo de atingir suas metas que têm foco na neutralidade de carbono até 2050, a Danone Brasil avança com seu projeto pioneiro de agricultura regenerativa – o Projeto Flora, que foi criado em 2019. A iniciativa veio reforçar o comprometimento da empresa com responsabilidade socioambiental. Para falar sobre esse projeto, a Revista + Leite entrevistou Leonardo Siman, Gerente Sênior de Compras de Leite na Danone Brasil
Por Juçara Pivaro
Revista + Leite – O que é o Projeto Flora da Danone Brasil e quais são seus objetivos?
Leonardo Siman – O Projeto Flora foi criado para reforçar o comprometimento da Danone com responsabilidade socioambiental. O primeiro investimento foi a implementação de um projeto piloto com fazendas parceiras e começou no modelo de produção a pasto para desenvolver um sistema agroflorestal produtivo e rentável, no qual floresta e animais convivem em harmonia. É o que se chama de IPF, Integração Pecuária-Floresta, um modelo em que vacas leiteiras são criadas em um ambiente com plantação de árvores frutíferas, nativas e pequenos arbustos, reciclando seus próprios nutrientes e criando um ecossistema natural e mais sustentável.
Com isso, focamos em promover práticas consolidadas para reduzir nosso impacto no meio ambiente, como em manejos de solo e dejetos, plantio de árvores e recuperação de áreas degradadas. Hoje, o projeto já vem ganhando escala, visando uma transformação para a agricultura regenerativa em todos os sistemas produtivos de leite em que nossos fornecedores atuam.
Como resultados, também temos produtores mais bem preparados para gerir suas fazendas, empoderados de conhecimento e técnicas, além de vivenciarem uma expressiva mudança na qualidade de vida, incluindo o aumento da renda na economia local.
Revista + Leite – A Danone conta com entidades parceiras nessa iniciativa?
Leonardo Siman – Na produção do leite, investimos em programas de desenvolvimento econômico e sustentável para produtores parceiros por meio de capacitação (Educampo), assistência técnica (ComQuali), e apoio na compra de insumos (Central de Compras). Além disso, a Danone utiliza com seus produtores parceiros o Sistema MDA de Gestão, um modelo de gestão desenvolvido pelo Prof. Paulo Machado para aplicação na agropecuária. Com uma metodologia consolidada, ferramentas simples e acessíveis a qualquer produtor, o MDA mostrou-se um caminho certeiro.
Revista + Leite – Quais os resultados da primeira fase do projeto? Houve crescimento de produtividade?
Leonardo Siman – O Projeto Flora tem focado em promover práticas regenerativas eficientes, visando impactar positivamente a rentabilidade de seus parceiros no fornecimento de leite, enquanto também busca reduzir a pegada de carbono de suas produções. Entre os resultados já coletados com as fazendas parcerias da Danone que promovem práticas mais sustentáveis em sua produção observou-se aumentos relevantes de produtividade, margem líquida e rentabilidade por hectare.
Revista + Leite – Quais os números em relação à redução da pegada de carbono nesta primeira etapa?
Leonardo Siman – Atingimos uma redução total de 26% de emissões de CO2, equivalente nas fazendas participantes do Projeto Flora em 2021, em comparação a 2020. Isso vai ao encontro dos compromissos públicos da Danone que visam reduzir globalmente em 30% nossas emissões de metano na cadeia de leite fresco até 2030 e de descarbonizarmos toda a nossa cadeia de valor até 2050. Estamos atuando fortemente por meio de práticas regenerativas com o objetivo de beneficiar o solo, promover o bem-estar animal e capacitar nossos parceiros produtores de leite.
Revista + Leite – Qual a reação dos produtores que participaram dessa fase?
Leonardo Siman – No geral, nossos produtores parceiros têm ficado satisfeitos com a participação no Projeto Flora, observando um aumento de produtividade, margem líquida e rentabilidade em produções, além de conseguir gerir melhor suas fazendas como uma empresa também. Temos conseguido mostrar, por meio desse projeto, que sustentabilidade é um bom negócio para o produtor de leite também.
Revista + Leite – Até agora, quanto a empresa investiu nessa ação? E qual a previsão de investimentos na próxima fase?
Leonardo Siman – Já investimos R$ 2,3 milhões no Brasil, desde 2020, em ações de capacitação de agricultura regenerativa com foco em nossos produtores de leite parceiros.
Revista + Leite – Além do benefício para preservação ambiental, quais os benefícios para a empresa Danone, como um todo?
Leonardo Siman – O leite é a principal matéria-prima da Danone e, por isso, sua extrema qualidade é essencial. Dessa forma, a companhia atua muito próximo dos nossos produtores parceiros, com iniciativas que vão desde a escolha de fornecedores exclusivos e auditados, até a capacitação e programas para garantir a excelência do produto.
Produtores capacitados, além de mais produtivos, geram outros impactos positivos na cadeia, entregam um leite com melhor qualidade porque valorizam o bem-estar animal e preservam o meio ambiente.
Revista + Leite – Quantos produtores serão incluídos nesta nova fase? E quais as metas?
Leonardo Siman – Atualmente, o Projeto Flora conta com mais de 30 fazendas, localizadas no sul de Minas Gerais, estrategicamente próximas às fábricas da Danone, em Poços de Caldas. Hoje, 14% do volume de leite fornecido para a companhia já vem desse projeto. A Danone Brasil conta com o fornecimento de leite por mais de 250 fazendas, sendo que 70% são pequenos produtores, gerando um impacto econômico, social e ambiental positivo, reconhecido pela certificação B Corp.
Revista + Leite – A Danone tem projetos semelhantes em suas unidades em outros países?
Leonardo Siman – A Danone trabalha diretamente com 58 mil produtores de laticínios em 20 países e já apoiou projetos para a produção de leite em 14 países por meio de programas de agricultura regenerativa, iniciativas tais como Farming for Generations e com o Ecossistema Danone.
Enquanto esses projetos são holísticos por natureza, com benefícios para a biodiversidade, qualidade do solo e redução do uso de produtos químicos na agricultura, a redução de emissões de GEE, incluindo metano, é uma prioridade. Em 2023, a Danone deve lançar quatro novas iniciativas para redução de metano na África, Europa e Estados Unidos.
Revista + Leite – A empresa tem certificações em função de suas ações em sustentabilidade?
Leonardo Siman – A Danone é a primeira grande empresa de alimentos e bebidas, no Brasil, certificada como Empresa B em 100% do portfólio. Essa conquista, concedida pelo Movimento Global de Empresas B – uma organização internacional independente, comprova que nossa forma de fazer negócios fomenta e constrói um sistema econômico mais equitativo, regenerativo e inclusivo para as pessoas e para o planeta. É agir com responsabilidade, transparência, cumprindo altos padrões de gestão e melhoria contínua, para que essa transformação esteja cada vez mais incorporada em todos os processos e áreas da companhia, ao longo do tempo. A meta é que o grupo Danone global seja certificado como Empresa B até 2025, 75% do negócio já é certificado.
Revista + Leite – Nas indústrias, a Danone também conta com programas para reduzir emissão de carbono e outras ações em benefício da sustentabilidade?
Leonardo Siman – A Danone tem como meta de sustentabilidade a descarbonização de toda a cadeia de valor até 2050, além de ter 100% de embalagens recicláveis, compostáveis e reutilizáveis até 2030. Para isso, estabeleceu metas para preservar e regenerar a natureza, tais como reduzir as emissões de GEE em linha com a meta de 1,5°C, liderando as reduções de metano; conduzir o caminho para modelos de agricultura regenerativa com pioneirismo e escala na produção leiteira; preservar e restaurar as bacias hidrográficas onde operamos e impulsionar a redução da pegada hídrica em toda a cadeia; promover a transição para um sistema de embalagem circular e de baixo carbono, e recuperar tanto quanto utilizamos; e cortar desperdícios em toda a cadeia de valor.