Artigo – Rastreamento de movimentação de caprinos e ovinos como estratégia para um Sistema de Alerta e Vigilância Sanitária

Artigo - Rastreamento de movimentação de caprinos e ovinos como estratégia para um Sistema de Alerta e Vigilância Sanitária

O trânsito de produtos alimentares e de animais, sem os devidos cuidados sanitários, leva a riscos de disseminação de doenças e vetores. Por isso é importante rastrear e acompanhar a movimentação dos caprinos e ovinos: de onde vem, para onde estão sendo enviados (municípios e propriedades) e, ainda, a qual uso se destinam, sejam eventos, produção ou melhoramento dos rebanhos.

Estudos anteriores, realizados pela Embrapa Caprinos e Ovinos, demostraram a ocorrência de enfermidades infecciosas nos rebanhos em diversas macrorregiões do estado do Ceará, o que acarreta prejuízos diretos e indiretos aos sistemas de produção, seja pela diminuição de leite, carne e período de lactação; por problemas como aborto, nascimento de animais debilitados e de baixo peso; custos com tratamentos e programas de controle; necessidade de descarte de animais e até mesmo sua morte .

A fim de obter informações sobre as doenças de caprinos e ovinos no Nordeste do Brasil, a Embrapa Caprinos e Ovinos, desde o ano de 2009, vem analisando e mapeando as principais enfermidades que acometem estes pequenos ruminantes. Os pesquisadores buscaram obter dados epidemiológicos e zoossanitários das propriedades e realizar o diagnóstico sorológico de doenças de caprinos leiteiros e ovinos de corte.  São elas: Clamidofilose, Epididimite Ovina, Leptospirose, Artrite-Encefalite Caprina, Maedi-Visna e Língua Azul.

Estas doenças foram escolhidas em razão de serem de notificação compulsória, descritas pela Organização Internacional de Epizootias (OIE). Outras enfermidades também foram estudadas, apesar de não serem listadas pela OIE, são responsáveis por grande impacto econômico na produção de pequenos ruminantes no Brasil e, por isso, também foram alvos deste inquérito sorológico, como Linfadenite Caseosa, Toxoplasmose e Neosporose.

O estudo nas propriedades também buscou conhecer os manejos, a presença de animais silvestres, o destino do lixo, a qualidade da água e a prevalência das doenças visando traçar estratégias de capacitação e orientações para os técnicos e produtores. Com o banco de dados e materiais obtidos no estudo, realizou-se a capacitação de produtores, técnicos, estudantes de graduação e pós-graduação.  Foram, ainda, firmadas parcerias com universidades e publicados diversos artigos científicos. A Embrapa disponibilizou, no âmbito do Centro de Inteligência e Mercados de Caprinos e Ovinos, um repositório com todas as informações epidemiológicas das doenças desses pequenos ruminantes, além de dados de apoio às políticas públicas de defesa sanitária.

Dados do Ceará

Somente no estado do Ceará, foram coletadas 862 amostras sorológicas de caprinos e 1029 de ovinos, pertencentes a quatro mesorregiões: Metropolitana de Fortaleza, Norte, Noroeste e Sertões Cearenses. No total, 17 municípios participaram da pesquisa (Horizonte, Aquiraz, Caucaia, Eusébio, Pacajus, São Gonçalo do Amarante, Beberibe, Canindé, Santa Quitéria, Granja, Sobral, Parambu, Tauá, Independência, Quixadá, Quixeramobim e Banabuiú).

Levando-se em consideração a relevância dos resultados obtidos no estado, o número de animais analisados, localizações de origem e da soroprevalência das enfermidades, percebe-se a necessidade de aprimorar a inteligência epidemiológica. Isto será realizado por meio de novas análises e do mapeamento das doenças por municípios no estado; do rastreamento dos tipos raciais que entram no Ceará, do volume e sua distribuição; e da movimentação espacial para os municípios e propriedades. Esses dados serão utilizados como ferramentas de alerta e vigilância sanitária a fim de prevenir a propagação das enfermidades.

De posse destas informações, a Embrapa – em conjunto com a agência de defesa e as secretarias de agricultura estadual e municipais – buscará novas estratégias para apoio tecnológico e educativo em sanidade de caprinos e ovinos, com ações diretas de transferência de tecnologia, além da avaliação das capacidades laboratoriais para diagnóstico e da formação continuada de técnicos nas doenças de ovinos e caprinos e planos de biosseguridade.

Autores: Selmo Fernandes Alves e Rizaldo Pinheiro – Médicos veterinários, pesquisadores da Embrapa Caprinos e Ovinos na área de Sanidade Animal.

Embrapa Caprinos e Ovinos

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