O ‘Ouro Branco’ do Ceará: desafios e conquistas da cadeia láctea no estado

O ‘Ouro Branco’ do Ceará: desafios e conquistas da cadeia láctea no estado

Em entrevista, o presidente do Sindlaticínios do Ceará, José Antunes Mota, aborda os avanços do setor lácteo, os entraves enfrentados e as perspectivas para o fortalecimento da indústria e da pecuária leiteira

Erika Ventura

Como o senhor avalia o cenário da indústria do leite no estado do Ceará?
 
José Antunes Mota: A indústria do leite tem progredido muito no estado do Ceará. No passado, nosso ‘ouro branco’ era o algodão, hoje é o leite.

Atualmente o Ceará produz aproximadamente 2 milhões de litros dia, temos uma grande empresa localizada no estado que está entre as maiores do país. Estamos entre os 10 maiores produtores de leite do Brasil.

Quais os principais desafios enfrentados pelo setor?
 
José Antunes Mota: No momento é a importação de leite em pó, que prejudica o produtor. Ela faz com que os custos deles permaneçam elevados em função da utilização de produtos como soja e milho, que seguem para o mercado internacional. Essa elevação do preço impacta o produtor, a alma do negócio. A indústria apenas transforma. Isso está acarretando uma queda na produção de leite no Ceará. O segundo maior desafio é o período invernoso (período de chuvas), que dificultam a coleta do leite. Estamos fazendo um trabalho junto a Prefeitura e Governo para manutenção das estradas vicinais. Além do que já foi mencionado, outros grandes desafios nossos que estão relacionados aos produtos sem certificação, e acabam impactando a nossa formação de preço.
 
 Como o Sindlacticínios têm apoiado o fortalecimento na cadeia do leite no estado?
 
José Antunes Mota: Hoje nós temos 26 filiados, e estamos sempre buscando apoio junto aa entidades municipais, estaduais e federais.
Um exemplo: Temos empresas que trabalham com embalagens tetra pak, e que estavam com um estoque alto. Nós conseguimos uma pauta para a entrada de produtos de outras marcas, com acréscimo de 0,30 para 0,50 centavos no litro de leite, então nossas empresas comercializaram o que estava estocado.
Conseguimos também a isenção de todos os produtos lácteos (isso na Bahia já existe, e o Piauí está pleiteando), desde que seja produzido por produtor do cearense. Trabalhamos junto à Secretaria da Fazenda e entidades de fiscalização e certificação. O Sindlacticínios tem se destacado bastante neste relacionamento institucional.
E nós temos uma participação muito grande também em eventos nacionais e até internacionais, como uma visita que fizemos a uma feira em Lisboa.
Junto à Federação da Indústria do Estado do Ceará (FIEC), através do Senai, oferecemos cursos profissionalizantes aos Associados com bolsas de 100%. Agora mesmo, tivemos um curso de refrigeração e eletricidade com duração de dez dias, desenvolvido especificamente para o setor lácteo.
 

 Como o senhor tem observado as tendências e demandas do consumidor cearense para a área de lácteos?
 
José Antunes Mota: Aqui no Nordeste o consumo de leite é muito bom. Mas eu acompanhei um evento na Embrapa, que abordou inclusive tendências Internacionais, que trouxe exemplos de propagandas muito negativas sobre o consumo de leite, além de questões ambientais que, se mal interpretadas, também podem prejudicar. É preciso um olhar atento e vigilante, permanentemente. Além de esclarecedor.

 O que o senhor vislumbra para este ano?
 
José Antunes Mota: Nós estamos renovando nosso convênio com os associados e queremos aumentar o número de afiliados. Desejamos ter mais participação junto à FIEC em feiras e eventos nacionais e internacionais. Além disso, a nossa Federação da Agricultura está fazendo um trabalho de genética para a melhoria da qualidade do rebanho, e também estamos trabalhando na melhoria da qualidade do leite, com ações junto com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (FAEC) e com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que estão assistindo fazendas dos produtores. Esse é um trabalho muito importante.
 
 Conte-nos sobre a história do seu laticínio, o Cambí.
 
José Antunes Mota: Quem iniciou o Cambí foi a minha mulher, a Luíza Márcia Mota, porque  eu criava gado de leite e fazia o queijo artesanal, isso em 2002. Ela disse: ‘vamos melhorar a apresentação dos nossos produtos?’ E a gente começou com 500 litros de leite/dia. Eu dizia a ela que quando tivéssemos mil litros estaríamos bem. Passamos para mil, dois mil, e cheguei a conclusão que quanto mais a gente trabalha, maior a necessidade de capital de giro e expertises. Então fiz diversos cursos na FIEC/IEL, contei com a assistência de um técnico em nosso laticínio, implantamos um sistema e estamos seguindo em frente, sobrevivendo a essa economia.
 
Produzimos aproximadamente 30 itens, incluindo queijos, manteiga, bebidas lácteas e produtos zero lactose. E este ano pretendemos entrar no segmento do leite pasteurizado na garrafa.

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