Os primeiros três meses do ano se foram e é chegada a hora de ajustarmos as expectativas e analisarmos com calma o que pode-se esperar a médio prazo para o mercado do leite e seus derivados. A indústria aguarda ansiosa o fortalecimento da economia para que a demanda cresça e com ela, o consumo de lácteos
Não é novidade que vivemos períodos instáveis para o segmento lácteo. Se por um lado a oferta ainda segue menor que no período antes da pandemia e os custos dos insumos permanecem altos, por outro, temos mudanças político-econômicas e promessas para que a demanda reacenda. Num cenário como o atual, quais serão os próximos passos para toda a cadeia leiteira?
De acordo com a especialista Nadia Alcantara, consultora do FIA Business School/ Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (Pensa), as perspectivas para 2023 indicam um ano ainda muito influenciado pela fragilidade na demanda no consumo tanto no mercado doméstico como no mercado internacional. “A demanda interna ainda está enfraquecida devido à perda do poder de compra e à pressão inflacionária de vários alimentos junto ao consumidor, o que reduz o consumo do leite e derivados. Ressalta-se que foi observado uma queda de consumo de 170,3 litros por habitante ano no período pré pandêmico, para cerca de 163 litros/habitante em 2022, segundo dados da Embrapa”.
Nadia Alcantara, consultora do FIA Business School/ Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (Pensa)
Quanto ao preço, a especialista salienta que do lado da demanda internacional, importantes players como a China também apresentam consumo mais fraco, o que aumenta a disponibilidade de produto no mercado externo, e consequentemente pressiona os preços internacionais do leite. “Apesar do Brasil não ser tão fortemente influenciado pelos preços do leite no mercado internacional, algum impacto sempre é sentido por aqui, mesmo porque outros mercados próximos como Argentina e Uruguay também apresentam preços internos menores que os nossos, e aí sim, exercendo uma influência maior no sentido do produto nesses locais serem mais acessíveis à nossa indústria”.
Oferta e Demanda
Do lado da oferta, há uma pressão de redução da mesma, ocasionada pelos eventos climáticos de seca que afetam principalmente a região Sul – maior região produtora do país, e pelos custos mais altos dos insumos. Os índices de captação de leite nas indústrias mostraram redução nos volumes de produção da ordem de 5% em 2022 em comparação com 2021, segundo dados do IBGE, publicados pela plataforma Milkpoint.
“Já a demanda interna irá depender muito da capacidade do governo em estimular a retomada no consumo via pacotes de incentivos monetários – seja via redução dos juros, seja pelo aumento dos recursos para programas de renda. Caso isso realmente se confirme, a tendência seria de recuperação do consumo para níveis mais próximos daqueles observados nos períodos pré-pandêmicos”, explica Nadia.
Diante dos fatos, as necessidades da indústria voltam-se para a captação de um matéria-prima de qualidade e os produtores, por consequência, almejam relações cada vez mais formais, para que ao final a relação permaneça baseada em ganhos para ambos os lados. “É uma oportunidade para que a indústria firme laços de longo prazo e apostem na proximidade junto aos produtores, estabelecendo assim metas relacionadas à qualidade do leite”, finaliza.