Com menor custo, o produto similar ao leite ganhou mercado em meio a crise econômica e está entre as categorias de lácteos que mais cresceram em 2022
Com a alta de custos dos alimentos em geral em 2022 e consumidores em busca de preços mais atraentes, as indústrias de alimentos investiram em novas alternativas para oferecer produtos mais acessíveis. Nesse cenário, em especial, dois setores tiveram maiores altas de preço, o da panificação, em decorrência da guerra da Rússia com a Ucrânia, que afetou o preço do trigo, produto que o Brasil depende de importação e o setor de leite e produtos lácteos, que sofreu os reflexos dos altos custos na alimentação dos rebanhos na produção do campo, além das condições climáticas desfavoráveis.
Alguns produtos das indústrias disponibilizados com menor custo não tiveram mudanças em suas formulações, o mais comum foram embalagens menores com menos quantidade ou menor peso dos produtos, mas para o setor de leite e derivados, a saída escolhida pelas empresas foi produzir compostos lácteos, que por semelhança das embalagens, muitos consumidores que não observam os rótulos não percebem a diferença. Ocorre que do ponto de vista nutricional, o composto lácteo fica longe dos benefícios proporcionados pelo leite.
De acordo com a legislação do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), a Instrução Normativa n°28, 12.06.2007 – Regulamento Técnico para fixação de Identidade e Qualidade de Composto Lácteo – “o composto lácteo é um produto em que o leite — obrigatoriamente, contenha pelo menos 51% de leite em sua composição”.
Há vários produtos compostos lácteos no mercado, em substituição ao leite integral, leite em pó, requeijão, leite condensado, creme de leite, entre outros. Para esses produtos tornarem-se similares aos seus tradicionais em textura e sabor são acrescidos de açúcares, gordura vegetal, amido, soro de leite etc.
A nutricionista Madalena Vallinoti, nutricionista clínica e ex-diretora do SindiNutri-SP (Sindicato dos Nutricionistas do Estado de São Paulo), explica: “um dos ingredientes geralmente acrescido aos compostos lácteos é o soro do leite, um subproduto do leite resultante da produção de queijos. O soro contém menor teor de proteínas – em torno de até 50% menos, e cálcio – em torno de 30% menos. Esses nutrientes são de importância relevante na nutrição de crianças, adolescentes, gestantes e idosos. Contudo, o consumo do soro do leite não é contra indicado, pode ser consumido pelo ser humano, inclusive, é a base de preparo do tradicional Whey Protein, suplemento muito utilizado pelos praticantes de atividade física”.
Comparado ao leite integral, o soro de leite contém menos proteínas, mais carboidratos – lactose, menos cálcio e também menor quantidade de gordura saturada, portanto, com menor aporte das necessidades para o período de crescimentos das crianças, dos adolescentes e gestantes. No caso dos idosos, essa também faz diferença, pois o consumo adequado de proteínas é importante, dentre tantos aspectos nessa faixa etária, está a tendência natural à sarcopenia – perda de massa muscular, além da prevenção da osteopenia e osteoporose, que demanda um adequado consumo de cálcio através da alimentação. O leite, pela praticidade de preparo e acesso, é um dos alimentos preferidos pelos idosos, há que se atentar a este aspecto. Para os intolerantes à lactose, o consumo de produtos com compostos lácteos pode causar ou exacerbar os sintomas como flatulência, náusea etc”, explica Madalena.
A nutricionista complementa: “entendo que um consumo pontual de compostos lácteos não trará prejuízos, contudo, o consumo constante desses produtos pode trazer prejuízos à saúde dos indivíduos. Acredito que o consumidor deva saber e entender o que está levando para casa, o que irá consumir e alimentar sua família. Além do ‘leite composto lácteo’, há outros subprodutos, como, por exemplo, o requeijão, que apresentará em sua composição amido, gordura vegetal para melhor palatabilidade e textura, isso seria prejudicial, por exemplo, para uma criança acima do peso ou um adulto com um quadro de dislipidemia. O nutricionista pode auxiliar o indivíduo em como fazer escolhas mais saudáveis para sua alimentação. Lembrando que também pode haver a adição de uma série de espessantes, corantes, edulcorantes, aromatizantes e por aí vai, que em regra geral, não deveríamos consumir com frequência e que indivíduos mais sensíveis, podem, por exemplo, apresentar ou exacerbar quadros de alergias alimentares leves ou mais severas”
Os nutricionistas têm se posicionado sobre os compostos lácteos na mídia e o trabalho desenvolvido por esses profissionais em seus consultórios e nos ambulatórios, orientam em relação aos cuidados que seus clientes devem ter com substituições por alimentos e produtos mais saudáveis. Madalena ressalta: “entendo que execrar a indústria não seja uma solução, no entanto, favorecer a informação correta é vital para o consumidor”.