ABIQ: 35 anos de história a serviço da evolução do queijo brasileiro

ABIQ

A Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (ABIQ) iniciou sua trajetória em 1988, época em que o controle de preços e outras regulações do tabelamento de preços exigiu a união de queijeiros para atuar junto aos órgãos federais em defesa do setor.

Sempre atuante, no decorrer de décadas, a associação trabalhou em várias frentes para a evolução do setor, seja tecnicamente, no aprimoramento da produção, trazendo mais qualidade para o queijo, seja em atenção aos assuntos regulatórios, ou com um marketing eficiente para estimular o consumo.

Para falar mais do setor e como a ABIQ posiciona-se em várias questões importantes de produção e do mercado, a Revista + Leite entrevistou Fabio Scarcelli, presidente da entidade e que, desde sua fundação da associação, faz parte história de comprometimento com o queijo brasileiro nas ações da ABIQ.

Revista Mais Leite O setor de queijos no Brasil evoluiu muito em qualidade e na diversidade de tipos de produtos nas últimas décadas.  Quais fatores foram determinantes para essa evolução?

Fabio  Scarcelli  –  Além da qualidade e diversidade, evoluímos muito também na quantidade produzida. Em 1988, ano de fundação da ABIQ, os laticínios com SIF produziram 180.000 toneladas por ano e, atualmente, são mais de 1.250.000 toneladas por ano. A indústria investiu muito em tecnologia, em novos produtos e na divulgação dos queijos. Hoje, utilizamos as mesmas modernas práticas de fabricação, fermentos e coadjuvantes que as demais indústrias do mundo. Os principais fornecedores desses insumos estão aqui no Brasil, inclusive, muitos deles fazem parte de nossa associação. Os investimentos em automação também foram muito significativos, embora ainda tenhamos muito a progredir nesse campo. As indústrias aumentaram a oferta de tipos e suas apresentações e investiram em divulgar novos hábitos de consumo, especialmente, com ações nos pontos de vendas, em restaurantes e no food service

Revista Mais Leite As maiores mudanças vieram dos produtores de leite, que investiram em qualidade ou das indústrias?

Fabio  Scarcelli   – Sem dúvida essa evolução foi devida, especialmente, ao esforço das indústrias, inclusive, ajudando no desenvolvimento de novas bacias leiteiras.  Nossos parceiros da produção primária progrediram em quantidade e qualidade, porém ainda temos uma defasagem na oferta de leite e temos avanços significativos a fazer na qualidade e na efetividade da produção de leite. 

Revista Mais Leite Por falar em indústrias, o nível de automação na produção de queijos já se pode considerar alto ou ainda há muito que evoluir nesse sentido?

Fabio  Scarcelli    – Nos últimos anos, a mecanização e a automação das linhas de produção e dos controles de dados avançaram bastante, acelerando o processo de modernização dos laticínios queijeiros de todos os portes.  Essa renovação tecnológica será cada vez mais importante para aumentar a produtividade do setor. Ainda temos um bom caminho a percorrer. 

Revista Mais Leite –  O que se observa mais recentemente é o crescimento no número de pequenos produtores que ingressam no mercado de queijos artesanais. Quais os benefícios que esse movimento traz para o setor e quais os riscos de comercialização desse tipo de queijo?

Fabio  Scarcelli  – Nossos associados são laticínios queijeiros sob inspeção Federal ou Estadual (tem SIF ou SISB) e têm que seguir inúmeras e rígidas normas de produção, de boas práticas de fabricação, de gestão ambiental e estão sujeitos a constantes fiscalizações sanitárias.  Os queijos artesanais regionais são comuns em todos os países e têm seu espaço no mercado.  Esperamos também que, a legislação brasileira evolua para os artesanais, que tenham que seguir práticas seguras de produção, logística e normas de inspeção para que possam entregar um produto sem risco alimentar como são os queijos das indústrias sob inspeção. 

Revista Mais Leite Ainda sobre queijos artesanais, os processos de formalização da segurança alimentar desses queijos caminha mais lentamente do que o crescimento de pequenos produtores. Qual seria a solução para agilizar as certificações desses produtos?

Fabio Scarcelli    – Não basta apenas ter um “Selo” de reconhecimento de território ou de prêmio gravado no rótulo. É importante, especialmente considerando que muitos trabalham com leite não pasteurizado,  que normas sanitárias e as boas práticas de fabricação sejam imperativas também para o produtor artesanal. Cremos que o Ministérios da Agricultura e da Saúde vão evoluir nesse sentido. 

Revista Mais Leite No Brasil, há algumas décadas, o setor de café passava por problemas nos produtos oferecidos ao consumidor e a Associação Brasileira de Café (ABIC) criou o selo de qualidade para os produtos. A Abic já avaliou também criar um selo de qualidade?

Fabio Scarcelli    – A ABIQ não tem poder de fiscalização sobre as indústrias e nem tem essa pretensão ou estrutura para tanto, conhecendo a enorme pulverização dos laticínios queijeiros por todos os Estados do Brasil. A ABIQ trabalha em conjunto com o MAPA e a ANVISA para que o arcabouço regulatório sirva de parâmetro seguro para todos os laticínios queijeiros do país.   

Revista Mais Leite De alguns anos para cá, os queijos brasileiros têm surpreendido com os prêmios recebidos no exterior. Considera que esses produtores vencedores sejam pontos fora da curva ou seria uma tendência essa ‘gourmetização’ dos queijos brasileiros?

Fabio  Scarcelli  -.Consideramos que são mercados paralelos.  As indústrias produzem, hoje, queijos especialidades com complexas tecnologias como queijos com mofo branco, olhaduras, mofos azuis, queijos de muito longa maturação, os quais já representam sofisticação e ‘gourmetização’ nos hábitos de consumo dos brasileiros. Lembramos que cerca de 63% do consumo no Brasil é de queijos commodities, como mussarela, prato e requeijão. As indústrias com SIF/SISB têm que seguir os RTIQ do MAPA. Os pequenos laticínios artesanais podem criar mais livremente, podem nomear seus queijos da forma que quiserem e, assim, apresentar produtos diferentes. Com certeza têm se expostos mais em concursos internacionais de seus congêneres do que as indústrias. Mas não podem vender queijos em todo o Brasil ou exportarem seus produtos. São nichos diferentes e que conviverão. Quanto a premiações, aqui temos um excelente concurso promovido pelo Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT),  em Juiz de Fora, onde profissionais gabaritados reconhecem os produtos da indústria brasileira que merecem ser premiados dentro das respectivas categorias. 

Revista Mais Leite Por algum tempo, especialmente anos 90, quando a alta gastronomia começava a despontar no Brasil, houve ações por parte de produtores e também da própria ABIQ em promover degustações e valorização dos queijos brasileiros. Visto pelo prisma atual, essas ações apresentaram bons resultados?

Fabio  Scarcelli  – Nos anos 90, a ABIQ conseguiu que as churrascarias, inicialmente em São Paulo, servissem queijos nos buffets desses restaurantes. Esse movimento ganhou força e, hoje,  está em todo Brasil. E houve um grande esforço das indústrias de queijos, por mais de uma década, de investir em ações de degustação, festivais de queijos, semanas temáticas, em parceria com grandes redes de supermercado, que com certeza foram e continuam importantes para introduzir novos queijos na vida dos brasileiros. Os queijos, alimento complexo, ricos em valor nutricional e milenares, fizeram parte do movimento de ‘gourmetização’  vivenciado nas últimas décadas no Brasil. 

Revista Mais Leite Após a pandemia da Covid 19, o mercado de queijos apresentou um crescimento considerável, maior do que outras categorias de lácteos. A que atribui essa condição?

Fabio  Scarcelli  – Durante a pandemia, com as pessoas confinadas em casa, aumentou muito o consumo de queijos no lar.  Os consumidores ficaram mais interessados em assuntos de gastronomia, tomaram mais café da manhã, reconheceram o valor nutricional dos queijos, sua versatilidade e a facilidade de sua utilização.  

Revista Mais Leite Como vê as perspectivas no mercado brasileiro para o setor de queijos brasileiro para um futuro próximo?  Podemos pensar em exportação expressiva do setor?

Fabio Scarcelli  – A indústria nacional de queijos tem um mercado represado pelo déficit na produção do leite e pela renda da população.  Ou seja , ainda temos oportunidades para crescer. O consumo doméstico é cerca de 6kg/ano e pode se expandir. De qualquer forma, muitas indústrias brasileiras já estão habilitadas a exportar; algumas já o fazem em pequena escala e num grande esforço. Exportam garimpando e aproveitando nichos de mercado em uma disputa desigual com outros países exportadores. A maior dificuldade para o Brasil exportar mais, já que, hoje, somos o quinto maior produtor de queijos do mundo, é a baixa disponibilidade interna de leite e seu custo. O preço do leite, na média, em dólar, sempre tem estado acima dos valores internacionais e, inclusive, no momento, é um dos mais caros do mundo. 

Revista Mais Leite A Abiq comemora 35 anos de existência no setor de queijos no Brasil. O que considera destacar sobre a da entidade da atuação nesses anos e quais os desafios atuais da entidade?

Fabio  Scarcelli  – Tivemos várias conquistas em todas áreas de atuação da entidade a favor das indústrias de queijo. Na área Técnico/Regulatório, com a introdução de inovações tecnológicas, reaproveitamento de soro, novos RITQs e RIISPOA, representação nos fóruns internacionais como FEPALE, Codex e Mercosul. No Fiscal/Tributário sempre fomos ativos, acompanhando e contribuindo em todas discussões que impactam o setor e participando das negociações com parceiros e com a União Europeia. No marketing, trabalhamos em várias frentes para divulgar e defender o queijo como alimento gostoso e saudável. Mas as demandas não param nunca. Temos enormes desafios em todas essas áreas, destacando-se agora a área Fiscal/Tributária para o assunto do momento que é a Reforma Tributária. No campo de Regulatórios, estamos focados nas novas exigências que só atingem as empresas sob inspeção e, no marketing,  o objetivo é a manutenção das campanhas de divulgação sobre o quão saudável é o nosso produto Queijo. Mas vamos nos manter atuantes frente a todos os novos desafios. 

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